Mulheres buscam duas vezes mais consultas preventivas no SUS do que homens em Porto Alegre

Por Eduarda Cidade, Giovani Baltezan, Larissa Har e Luísa Bell*

Nos últimos três anos, as mulheres frequentaram duas vezes mais consultas em clínica geral no Sistema Único de Saúde (SUS) de Porto Alegre do que os homens, de acordo com dados do GERCON – Gerenciamento de Consultas disponíveis no portal de dados abertos da capital. Somente em 2024, até junho, 67% dos atendimentos de clínica geral foram direcionados ao público feminino, padrão que se mantêm em 2023 e 2022. Foram 392 consultas em medicina clínica geral realizadas por mulheres contra 196 por homens no primeiro semestre deste ano.

Nos últimos três anos, a média de atendimentos nessa área não sofreu grandes alterações. Em 2022, 60% das consultas foram feitas por mulheres (1920 atendimentos) e os outros 40% eram homens (1254 atendimentos). Em 2023, os atendimentos femininos representaram 64%, sendo 1842 consultas, enquanto os masculinos foram 36%, totalizando 1057 consultas. Os dados sugerem uma preocupação maior das mulheres com a rotina de prevenção.

De acordo com um estudo do Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz, os homens tendem a frequentar menos os serviços de saúde devido a um modelo hegemônico de masculinidade. No entanto, o mesmo levantamento indica que nem sempre os entrevistados reproduzem esse modelo.

O estudo revela que outra motivação para a baixa procura masculina por atendimentos de saúde é o medo da descoberta de uma doença grave e a vergonha. As amarras culturais também são citadas. Segundo o artigo, “o imaginário de ser homem pode aprisionar o masculino em amarras culturais, dificultando a adoção de práticas de autocuidado, pois, à medida que o homem é visto como viril, invulnerável e forte, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia associá-lo à fraqueza, medo e insegurança”.

Rotina de cuidados

Em postos de saúde da capital, depoimentos de homens e mulheres reforçam que o autocuidado é mais presente enrtre o público feminino. Para Marla Rodrigues Vieira, de 23 anos, frequentar a unidade de saúde faz parte da sua rotina de cuidados com a saúde a cada seis meses. “Geralmente frequento o posto de saúde para fazer consultas de rotina, retirar e aplicar medicamentos e fazer exames quando preciso”, conta a jovem. Porém, ela observa que os homens da sua família demonstram mais resistência para comparecer às consultas médicas. “Não tenho marido e filhos, mas minha mãe e irmãos aqui em casa são bem resistentes a procurar um pronto atendimento para consultar, sempre estão em alerta se agravar alguma dor ou mal estar, caso haja necessidade de ir até um médico é por conta própria”, relata.

Já Ilca Amandio, aposentada de 74 anos, conta que tem o costume de cuidar da saúde ao fazer exames de rotina.  Ela relata que frequenta o posto de saúde do seu bairro para pegar receitas médicas para o tratamento de depressão e infecção urinária. “Eu tento identificar qual é a dor primeiro e depois penso em ir ao médico, caso eu note que piorou ou se não parou de doer”, ressalta. Ilca tem um filho de 50 anos e uma filha de 54, e percebe a diferença de comportamento entre eles. Segundo a aposentada, o filho não vai ao médico nem quando está doente: “Ele não consegue ser convencido”. 

Felipe Santos, de 24 anos, diz que só vai ao posto quando já está doente ou para tomar as vacinas. “Eu vou sempre por conta própria, mas não sou de realizar exames de rotina ou prevenção, a não ser quando o médico solicita”, destaca. O motorista de van escolar Rudimar Santos, de 61 anos, também só procura atendimento especializado quando muito necessário ou a pedido da esposa. “Quando eu vou, é logo no início dos sintomas, agora exames médicos realmente só faço quando o médico pede e só se for muito necessário”, afirma.

Política nacional

Segundo o Ministério da Saúde, apesar do aumento da expectativa de vida entre 2000 e 2018, os homens ainda vivem 7,1 anos a menos que as mulheres, e o risco de homens morrerem por doenças crônicas não-transmissíveis, principalmente por doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas, é de 40% a 50% maior em relação às mulheres.

O Brasil é o único país da América Latina com uma política de saúde específica para a população masculina, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Através da promoção do acesso a serviços de saúde abrangentes e ações preventivas, a política busca também reconhecer e respeitar as diversas manifestações de masculinidade, de acordo com o MS.

*Reportagem produzida na atividade acadêmica de Jornalismo de Dados (supervisão: Taís Seibt)

Beta Redação

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