Transformação social e inclusão através da patinação artística

Com aulas gratuitas, o grupo Gyrus é referência em patinação artística e atende mais de 1 mil jovens.
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Crédito: Gabriele Rech

Com espetáculos que encantam e uma história que emociona, o Grupo Gyrus tem se consolidado como um projeto de inclusão e transformação social por meio da patinação artística. Fundado em 2008 por Fernando Pohl, o projeto nasceu com o propósito de democratizar o acesso ao esporte. “É uma oportunidade de aprender e se desenvolver não apenas como atletas, mas também como seres humanos mais confiantes, resilientes e preparados para os desafios da vida”, afirma Fernando.

O Gyrus surgiu a partir da iniciativa de Fernando Pohl, atual coordenador do projeto, em colaboração com um grupo de seis pais, com o objetivo de oferecer patinação artística gratuita para as crianças da região. Na época, a ideia era simples: proporcionar uma experiência por meio do esporte, especialmente para aquelas crianças de famílias que não tinham condições de pagar por aulas de patinação ou adquirir os equipamentos necessários.

Para Fernando, o projeto sempre teve um foco muito claro. “Eu acreditava no poder do esporte e da arte como ferramentas de inclusão, educação e desenvolvimento pessoal. A patinação tem um grande poder transformador e eu queria que mais crianças tivessem acesso a ela, independente de sua condição financeira”, conta ele. A paixão pela patinação e a vontade de retribuir tudo o que aprendeu ao longo de sua trajetória no esporte foram as maiores motivações para que o Gyrus saísse do papel e se tornasse realidade.

Hoje, após 16 anos de história, o Grupo Gyrus atende 1.311 crianças em 23 unidades espalhadas por diversas cidades do Vale do Caí, incluindo São Sebastião do Caí, Tupandi, Pareci Novo, Bom Princípio e até Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha. Para Fernando, uma das maiores recompensas do projeto é ver as transformações que acontecem nas crianças, tanto dentro quanto fora da pista de patinação. “Dentro da pista, elas desenvolvem habilidades técnicas, disciplina, coordenação motora e uma incrível capacidade de superação. Cada treino, cada movimento aprendido, é uma conquista que aumenta a autoconfiança delas”, explica o coordenador.

O que também impressiona é a mudança que essas conquistas geram no comportamento das crianças fora da pista. De acordo com Fernando, as habilidades que elas desenvolvem no esporte se refletem diretamente na sua vida cotidiana. “Vejo crianças mais seguras, comunicativas e resilientes. Elas aprendem a lidar com desafios, a trabalhar em equipe e a valorizar o esforço, habilidades que levam para a escola, para casa e para a convivência com os amigos”, afirma o coordenador, emocionado.

O projeto também tem sido fundamental para criar um forte senso de comunidade, especialmente entre crianças de diferentes cidades. Por meio dos treinamentos, competições e apresentações, as crianças do Gyrus têm a oportunidade de conviver com colegas de outras localidades, criando laços e amizades. “É bonito ver como elas se apoiam mutuamente, independentemente da cidade de origem. Nas apresentações, por exemplo, não existe rivalidade; o que vemos é um apoio genuíno, com aplausos, palavras de incentivo e celebração das conquistas de cada um”, observa Fernando. O espírito é de união e respeito mútuo, e isso fica claro nas interações das crianças.
A patinação, por ser uma atividade artística, também permite que elas expressem suas emoções de forma criativa.

O projeto Gyrus também enfrentou desafios, especialmente nos primeiros anos. A falta de infraestrutura, equipamentos adequados e apoio financeiro foram alguns dos obstáculos iniciais. “Não tínhamos espaço adequado para os treinos, nem os recursos para os equipamentos. Além disso, convencer as famílias a acreditarem no potencial da patinação foi um grande desafio”, lembra Fernando. No entanto, o grupo conseguiu superar essas dificuldades por meio da união e do comprometimento de todos os envolvidos. Buscando parcerias com prefeituras, associações e empresas locais, o Gyrus conseguiu garantir espaços para os treinos e recursos para os eventos. “Com o tempo, fomos conquistando a confiança das famílias e da comunidade. A união e a dedicação da equipe foram fundamentais para que o projeto se consolidasse”, destaca Fernando.

O reconhecimento do trabalho realizado veio em 2019, quando o Gyrus foi nomeado como a maior rede de escolas de patinação do estado e, mais tarde, recebeu o título de projeto binacional. “Quando recebemos esses títulos, foi como se todo o esforço, dedicação e amor pelo que fazemos tivessem sido traduzidos em algo grandioso. Eu me lembro de sentir uma mistura de gratidão, orgulho e emoção tão intensa que chorei por dois dias seguidos”, conta Fernando, emocionado. Essas conquistas representam não apenas o crescimento do projeto, mas também o impacto positivo que ele gerou na vida de mais de 7 mil crianças e suas famílias.

Com um crescimento contínuo, o Gyrus não para por aí. O projeto tem planos para o futuro, com a meta de expandir ainda mais seu alcance e aprofundar as atividades voltadas para o desenvolvimento emocional e social das crianças. “Queremos continuar expandindo, atendendo mais cidades e crianças, mas sem perder o foco na qualidade do que fazemos”, afirma Fernando.

Entre as metas de expansão, está a inclusão de novas modalidades, como atividades circenses e de cinema, além de já contar com aulas de teatro. O grupo também planeja criar programas de mentoria, workshops e intercâmbios, permitindo que as crianças ampliem seus horizontes e conheçam outras realidades. “Queremos criar um ciclo sustentável que permita ao Gyrus continuar existindo por muitos anos, beneficiando mais crianças e famílias”, diz Fernando.

Manter a gratuidade das aulas é um dos maiores desafios, mas, graças a parcerias com prefeituras e empresas locais, o Gyrus tem conseguido viabilizar a continuidade do projeto. A busca por editais de incentivo à cultura e ao esporte também tem sido uma estratégia importante para garantir recursos. Fernando acredita que, com o apoio da comunidade e a dedicação de todos, o Gyrus continuará a ser um exemplo de como o esporte pode transformar vidas e comunidades.

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