Os tons de verde, laranja e vermelho chamam a atenção de quem passa em frente à Fundação Ecarta, na Avenida João Pessoa, esquina com a Rua Lopo Gonçalves, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. O espaço participa pela primeira vez da Bienal do Mercosul, e uma das obras que integram a exposição é a própria fachada, que foi pintada pelo artista boliviano Freddy Mamani no estilo da “nova arquitetura andina”. A pintura, que levou duas semanas para ser concluída, reúne elementos gráficos da cosmologia dos povos dos Andes, unindo formas características como a chakana, ou cruz andina – símbolo de proteção e sabedoria ancestral, que incorpora valores como reciprocidade, harmonia com a natureza e vida em comunidade.
No dia 23 de março, durante a abertura da Bienal, o artista realizou uma visita guiada por sua obra e destacou: “Minha arquitetura e o que faço é uma forma para que esses povos originários marginalizados se mostrem com força. Tento representar os povos andinos e amazônicos, que estão esquecidos e marginalizados”. A fala, que está registrada em publicação disponível no Instagram da Ecarta, ganha ainda mais significado ao se considerar que a fundação está localizada em frente ao Parque da Redenção, local que costuma receber indígenas que comercializam seu trabalho e reafirmam sua presença cultural e econômica no espaço urbano da cidade.

Gabriele Rech/Beta Redação
Além da representatividade da obra de Mamani, a nova fachada atrai os olhares para o prédio que antes era cinza. Para quem já conhecia o local, a pintura foi um presente. “Costumo vir à Ecarta e gostei das cores, estão harmoniosas. Foi muito interessante a escolha desse artista”, conta Lucia Maria Turnes Bammann, que visitou o espaço na tarde de sábado (05/04). Já para quem ainda não conhecia a galeria, a pintura chama a atenção. “Eu nunca tinha prestado atenção no prédio, e agora, com esse colorido, ele atraiu meu olhar. É uma arte linda. Agora a gente se interessou e já quer saber o que acontece dentro desse imóvel”, destacou Vanessa Lima, que passava pela fundação no sábado junto com as filhas e parou em frente ao local para observar a obra na fachada.
A intervenção também é um presente para a própria Fundação Ecarta, que comemora 20 anos em 2025. “A oportunidade de participar da 14ª Bienal do Mercosul surgiu do convite do curador-chefe da mostra, Raphael Fonseca, que já conhecia a Ecarta. Ficamos muito honrados com o convite, que representa o reconhecimento do trabalho da Ecarta como espaço de valorização e divulgação da arte contemporânea”, comenta o coordenador da galeria, André Venzon.

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Sobre o significado e a preservação da pintura de Mamani, Venzon comenta que a expressão pública de uma obra de arte é construída pelo olhar das pessoas e que elas guiarão o trabalho do artista. “Freddy Mamani constrói com a cor. Sua intervenção em Porto Alegre promove um reencontro da cidade com seu rico território cultural, refletindo a diversidade e a pluralidade da arte latino-americana. A Fundação Ecarta e o Sinpro (Sindicato dos Professores do Ensino Privado) patrocinaram a pintura com verniz antipichação, que deve preservar a obra, além de facilitar sua manutenção”, destaca.
Na parte interna, a Fundação Ecarta conta com obras das artistas estrangeiras Minia Biabiany (França), Tang Han (China) e Sara Modiano (Colômbia). A visitação segue aberta até 1º de junho, de terça a domingo, das 10h às 18h.

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