Bienal do Mercosul marca retorno da arte à Usina do Gasômetro

Após sete anos fechado, o local reabre parcialmente ao público com arte contemporânea e presença educativa

Mesmo com o prédio parcialmente em obras, a Usina do Gasômetro voltou a respirar arte com a 14ª Bienal do Mercosul. Desde 28 de março, o primeiro e o segundo andares, respectivamente o térreo e o mezanino, recebem milhares de visitantes. Muitos são atraídos pela reabertura do espaço, mas acabam ficando no local por causa do evento.

Alguns espaços que integram a Bienal contam com a presença de mediadores, que conduzem diálogos, oferecer contextos e ajudar os visitantes a entrarem nesse mundo da arte contemporânea. Raphaelle Cardoso e Marla Pritsch, duas das mediadoras atuantes no Gasômetro, contam como está sendo a experiência de receber o público em um espaço tão simbólico.

“Muita gente vem aqui pela curiosidade de ver o Gasômetro reaberto, mas acaba sendo surpreendido pela arte. É legal ver como as pessoas chegam com uma expectativa e saem com outra, tocadas por alguma obra”, conta Raphaelle.

Uma das instalações que mais despertam conversas é a E pesadiya a libra mi di mi soño, do artista de Curaçao, Tirzo Martha. A obra foi feita com pneus, terra, sacos de lixo e cordas, e tem gerado bastante repercussão. “A gente tem tido conversas muito interessantes com o público a partir dessa arte. A leitura simbólica que ela permite é muito forte. Os materiais utilizados também têm gerado interpretações ligadas às recentes enchentes na cidade. Isso mostra que as obras podem gerar diversas opiniões”, explica Marla.

Visitantes apreciam as obras da Exposição Faísca que contém os dois andares para visitações/JOÃO PEDRO CHAGAS/BETA REDAÇÃO

A Bienal também tem um papel educativo importante. Escolas e instituições de ensino podem agendar visitas aos espaços, e a rede pública têm acesso a mediações com educadores. Segundo Raphaelle, para muitos estudantes essa é a primeira experiência em um ambiente dedicado à arte. “A gente diz pra eles: esse lugar também é de vocês. Entrem, explorem, reivindiquem”, pontua.

Setor da Bienal que apresenta fotografias sobre o carnaval na América Latina juntamente com a escultura de representando a cultura indígena/JOÃO PEDRO CHAGAS/BETA REDAÇÃO

Os jovens do ensino médio, acostumados a nomes como Van Gogh ou às pinturas clássicas, se deparam ali com obras mais ousadas e provocadoras. “A arte contemporânea ainda causa estranhamento, mas é ótimo quando eles percebem que ela pode surgir de qualquer coisa, até de pneu”, comenta Marla. Ela relata que os encontros com os alunos também abrem espaço para debates sobre os limites da arte, uma discussão que, segundo ela, sempre termina da mesma forma: “não há limites”.

Aos fins de semana, já houve picos de quase 3 mil visitantes em um único domingo. Já durante a semana, o ritmo é mais calmo e isso favorece conversas mais profundas sobre as obras. De acordo com a mediação do evento, a localização do ponto turístico influencia bastante na quantidade de visitantes. “Muita gente está passeando pela Orla e acaba entrando aqui. O Gasômetro é um ícone da cidade e acaba servindo de portal para muita gente que nunca havia entrado em um espaço com esse tipo de arte”, comenta Raphaelle.

Segundo andar conta com obras do artista uruguaio, Ulises Beisso conta a obra Sín Título e La Pasión/JOÃO PEDRO CHAGAS/BETA REDAÇÃO

A 14ª Bienal do Mercosul segue até 1º de junho, com entrada gratuita para todos os públicos.

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