O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) foi fundado em 15 de junho de 1961, por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com o objetivo de fazer a parte sul do Brasil prosperar. Nesse contexto, o banco de fomento atua com financiamentos de longo prazo para investimentos e ajuda transformar projetos em realidades.
Diretor de planejamento do BRDE, Leonardo Maranhão Busatto é economista formado pela UFRGS. Comanda a área responsável pela captação de recursos junto aos parceiros nacionais e instituições estrangeiras para novas operações de crédito, bem como pela política de responsabilidade socioambiental do banco. Trabalhou, em 2006, na Secretaria Estadual de Planejamento. Já no ano de 2007, assumiu como auditor fiscal da Secretaria Estadual da Fazenda. Em 2015 e 2016, atuou como subsecretário do Tesouro do Estado.
Em entrevista realizada para Beta Redação, no dia 26 de setembro, na sede administrativa do BRDE, em Porto Alegre (RS), o diretor de planejamento comenta sobre os projetos do banco, as suas diretrizes e o seu trabalho socioambiental. “O BRDE sempre teve na sua diretriz, nas últimas décadas, atuar na questão da sustentabilidade na preservação ambiental. Isso tem se reforçado ao longo do tempo em função, infelizmente, das questões climáticas.” Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
O que é o BRDE e como ele funciona?
O BRDE é um banco de desenvolvimento. Ele é um banco que não tem como objetivo fazer um empréstimo a uma pessoa física, ter conta corrente, o que a gente está acostumado dos bancos tradicionais. A instituição tem um viés de promover o desenvolvimento socioeconômico da região sul.
O foco de atuação dele são os três estados [Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina]. O Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) é o maior e o BRDE hoje é o segundo maior banco de desenvolvimento que foi criado lá no início da década de 60, justamente, para promover o financiamento de projetos que gerassem desenvolvimento na região sul. Ele tem esse condão, essa visão de financiar projetos, especialmente, de médio a longo prazo para gerar o desenvolvimento econômico aqui dos três estados da região sul do Brasil.
“Em 2022, ele decidiu colocar no seu slogan principal a diretriz de ser um banco verde”
E quais são as principais diretrizes do BRDE?
O BRDE ao longo do tempo tem evoluído em relação à sua visão. Mas a diretriz principal sempre é o financiamento de projetos de longo prazo, que possam gerar efeito multiplicador, ou seja, renda, emprego, impostos na região sul. Ele é um banco que tem que atuar em setores que, digamos assim, um mercado, a economia, especialmente um setor privado não atuam, seja porque ele tem um risco maior ou porque a rentabilidade desse projeto não é tão atrativa.
Então, o banco tem se posicionado sempre para poder fomentar projetos em setores em que os bancos privados não entram, por exemplo, projetos de sustentabilidade, visando a transição energética, placas solares, energia eólica, biocombustíveis, centrais hidrelétricas, a questão da inovação, a própria questão de equidade, com o programa de mulheres empreendedoras.
O BRDE é conhecido por ser um “Banco Verde”. Por que ele é visto dessa forma e como ele atua nesse meio sustentável?
O BRDE sempre teve na sua diretriz, nas últimas décadas, atuar na questão da sustentabilidade, na preservação ambiental. Isso tem se reforçado ao longo do tempo em função, infelizmente, das questões climáticas, aquecimento global e os desastres que tenham ocorrido. Em 2022, ele decidiu colocar no seu slogan principal a diretriz de ser um banco verde.
O que significa isso na prática: é um banco que nas suas atividades internas e nos seus financiamentos sempre busca priorizar projetos que não gerem efeitos negativos no meio ambiente. Seja descarbonizando a atmosfera e não gerando novas emissões de carbono, por isso que o banco prioriza sempre projetos que tenham essa pegada sustentável, verde. Especialmente, essa visão de financiar projetos que melhorem o ambiente e promovam a transição energética que é tão importante.
O senhor citou também a questão das crises climáticas que estamos vivenciando. Como o banco atuou no período das enchentes e o que foi feito para ajudar os empreendedores?
Acho que logo que aconteceu esse desastre, especialmente a enchente de maio de 2024 – já tinham ocorrido enchentes significativas no Rio Grande do Sul, mas também em Santa Catarina, lembrando que o banco atua toda região sul -, nesse momento, a gente entendeu que o BRDE tinha que ser proativo e deveria fazer pelo menos uma ação que foi importante. Durante os próximos 12 meses, ou seja, um ano após o acontecido de maio em diante para aqueles clientes que foram afetados, se tivessem interesse, o banco daria o famoso standstilll, que na prática é uma carência, ou seja, quem solicitou não precisou pagar nenhum real nos seus financiamentos já existentes nesse período.
A gente entende que nesse momento das enchentes e os pós-enchentes, que é o que nós estamos vivendo, é quando as empresas precisam se reorganizar. Elas precisam gerar novamente receita, não fazia sentido o BRDE cobrar pelos seus empréstimos do passado quanto ela precisava se recuperar. Então, essa foi a principal ação de curto prazo.
No segundo momento, começamos a entender que, além do alívio no fluxo de caixa no pagamento das empresas, era preciso de injetar um novo capital, novos recursos para essas empresas, especialmente de capital de giro, para elas poderem voltar a operar. Por isso, o BRDE criou especialmente para o Rio Grande do Sul, em parceria com o governo do Estado, um programa chamado Em Frente RS, em que a gente colocou à disposição R$ 325 milhões, juro subsidiado para pequenas e médias empresas, capital de giro, ou seja, capital que a gente não exige uma contrapartida de investimento, justamente, para o empreendedor poder voltar a pagar seus funcionários, comprar os seus insumos, reparar algumas máquinas e pagar impostos.
“O pilar do agro sempre foi muito um dos vieses mais fortes para o banco”
Qual a importância do BRDE para o setor econômico para o Rio Grande do Sul e para os outros estados?
Essa é uma questão que a gente sempre se faz aqui. Sempre que a gente vai fazer uma iniciativa, a gente se questiona: qual é o papel do BRDE e qual é o seu impacto? O BRDE tem que atuar sempre nos setores em que a economia normalmente não atuaria, e eu acho que estamos sendo muito felizes aqui ao longo das décadas em fazer isso.
Recentemente, tivemos um estudo, realizado por um instituto lá do governo do Paraná, o IPARDES [Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico], que apresentou os resultados de impacto dos financiamentos do BRDE do ano de 2022 na região sul. Foram mais de 50.000 empregos gerados, por exemplo, a partir dos investimentos financiados pelo BRDE, quase R$ 4 bilhões de investimentos que são empregos que, se não houvesse a ação do BRDE, provavelmente não teriam acontecido ou demorariam mais tempo para acontecer. Fora a geração de impostos. Foram quase R$ 500 milhões só de geração de impostos, mais R$ 3 bilhões de impacto no PIB [Produto Interno Bruto].

E hoje, quais são os principais projetos realizados pelo BRDE?
O BRDE sempre tem uma capilaridade muito grande. Ou seja, ele trabalha em várias regiões em projetos pequenos, médios e grandes, em quatro grandes pilares. O pilar do agro sempre foi muito um dos vieses mais fortes para o banco. Também a indústria sempre foi um setor muito forte, o comércio e serviços (atividades de lazer, entretenimento e turismo) e o setor público (basicamente prefeituras).
Eu diria que hoje os grandes pilares em que o BRDE tem atuado são projetos de sustentabilidade. O banco é muito forte, é certamente um dos atores mais relevantes no financiamento de projetos sustentáveis.
O senhor citou agora que o BRDE é muito forte na questão do agronegócio. Quais foram os resultados da Expointer neste ano de 2024 e qual a importância da feira para o banco?
A Expointer é o momento mais importante do ano para o BRDE, aqui do Rio Grande do Sul, obviamente, quando a gente olha para a instituição como um todo. Mas, no estado gaúcho, a Expointer é o momento em que a gente consegue ter a maior relação com os nossos clientes, é quando a gente consegue também prospectar novas oportunidades e fazer um debate sobre o futuro.
Esta Expointer mostrou dois grandes papéis do BRDE e duas grandes formas de atuação. O primeiro é esse papel do BRDE no viés de reconstrução. A gente teve um papel relevante em algumas indústrias, na correção do solo que foi afetado.
Mas, principalmente, os resultados demonstram que o BRDE passou a ser um banco que consegue ter uma multiplicidade de tipos de recursos, ou seja, nós financiamos vários projetos com recursos externos e internos, com recursos vindo do governo federal, com recursos próprios do BRDE, com captação ao mercado.
Essa multiplicidade de fontes de recurso mostra como a instituição evoluiu nos últimos anos. Passou a ser um banco mais moderno, tanto do lado do financiamento de projetos, mas também da captação de recursos para poder financiar esses projetos. Isso foi a síntese aqui da nossa Expointer, porque foi muito produtiva, melhor do que o esperado. Até porque era a Expointer da reconstrução. A gente saiu muito otimista que em uma Expointer como essa a gente teve grandes resultados. Acho que o futuro do nosso estado é promissor.
“O BRDE financiou o espaço para que elas [startups] pudessem apresentar os seus produtos”
O senhor também participa do BRDE Labs. Como funciona esse projeto e qual a sua importância?
BRDE Labs é um dos programas mais legais que nós temos aqui no banco, porque ele é um programa que foge do papel tradicional do BRDE de financiamento, de crédito para o cliente. Ele é um programa que busca fazer uma aceleração de startups [empresas que estão começando, inovadoras e/ou em áreas emergentes da economia].
O BRDE contrata um parceiro que é do meio do ecossistema de inovação. Nos últimos quatro anos tem sido a Feevale. A universidade faz um processo de seleção de empresas inovadoras, com acompanhamento obviamente do BRDE, para que a gente possa ajudá-las a se desenvolver e eventualmente no futuro poder ser uma grande empresa.
Além disso, a gente também traz grandes clientes do BRDE, o que chamamos de empresas âncoras, que ao enxergar essas startups eventualmente podem enxergar uma solução que, no futuro, elas podem ser atendidas e até fazer negócio com elas para suas próprias empresas.
Onde ocorrem os eventos finais de premiação do BRDE Labs?
No último ano, o evento final de premiação tem acontecido no Instituto Caldeira, aqui em Porto Alegre, no Quarto Distrito. O local é um ícone do ecossistema de inovação. É um hub onde tem várias empresas, e acontecer lá é uma característica de quase um prêmio, porque também tem outros negócios acompanhando o Labs que eventualmente podem se interessar nessas startups, para que elas possam se incorporar, fazer relação.
Além do dia da premiação, o que a gente fez no ano passado foi convidar todas as últimas participantes que foram premiadas a exporem seus produtos no South Summit, que hoje virou o grande evento de inovação do Rio Grande do Sul. O BRDE financiou o espaço para que elas pudessem apresentar os seus produtos.

O senhor citou agora o South Summit. Qual o papel do BRDE nesse evento?
No começo, eu nem estava no BRDE, mas eu participei. Eu conheço a história. Era um projeto que muita gente não acreditava, né? Porque era uma feira de inovação no Rio Grande do Sul, onde não é o grande lugar de ecossistema de inovação no Brasil. Assim, a gente acaba sendo deslocado de grandes centros econômicos do mundo e do próprio Brasil, que estão concentrados no sudeste. Entretanto, na época, o governo do Estado e a prefeitura fizeram uma aposta que tinha que ser em Porto Alegre.
Naquele momento, precisavam arranjar parceiros que pudessem ajudar a organizar e financiar a ideia. Então, o BRDE como o papel dele é estar onde o mercado e os sistemas não estariam, foi um dos primeiros a se mostrar à disposição, não só para patrocinar o evento, mas especialmente poder ser parte da organização. O BRDE conseguiu ser um dos fomentadores para que isso acontecesse e espero que esteja parceiro por muitos anos ainda.
O senhor já trabalhou, em 2006, na Secretaria Estadual de Planejamento. No ano de 2007, assumiu como auditor fiscal da Secretaria Estadual da Fazenda. Em 2015 e 2016, atuou como subsecretário do Tesouro do Estado. Como utiliza essas experiências do seu currículo agora como diretor do BRDE?
Desde a época da faculdade, mas também no setor público, a minha trajetória sempre foi ligada à questão do desenvolvimento, porém mais ligada nas finanças públicas, do investimento público. Então, a minha trajetória foi na Secretaria da Fazenda com uma visão de finanças, mas uma visão também de qualidade do gasto, ou seja, onde que eu devo alocar o recurso público para ter um maior retorno para a sociedade.
Essa jornada acho que me permitiu não só uma experiência em termos de finanças mesmo, que é importante para o BRDE, mas também ter uma visão um pouco mais clara de quais são os setores, quais são as atividades, quais são os investimentos que são necessários para o Estado do Rio Grande do Sul.