Mercado Público busca recuperação como sinônimo de resiliência

Funcionários e frequentadores relatam experiências no estabelecimento do Centro da Capital
Gilmar trabalha no mercado público há 45 anos e perdeu muitos itens de sua loja de erva-mate durante a enchente. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Gilmar trabalha no mercado público há 45 anos e perdeu muitos itens de sua loja de erva-mate durante a enchente. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

O Mercado Público, no Centro de Porto Alegre (RS), já enfrentou diversas dificuldades, entre elas a invasão da água, a pandemia e o fogo. O local foi atingido pelas enchentes em maio de 2024. Entretanto, conseguiu se reconstruir rapidamente, reabrindo parcialmente em 14 de junho. Depois de ficar 41 dias fechado, nesse primeiro momento 14 negócios (lojas e restaurantes) voltaram a funcionar.  

Nesse contexto, o Mercado Público completou 155 anos de existência neste mês de outubro, no dia 3. O estabelecimento é conhecido por ser o mais antigo do Brasil. Inaugurado em 1869, possui mais de 100 lojas, com uma diversidade de mercadorias, como roupas, acessórios, alimentos, produtos artesanais e regionais.

“Nós estamos firmes aqui ainda“

O comerciante da Banca 43, que vende erva-mate, Gilmar Antônio Giovanaz, 65 anos, trabalha no Mercado Público há 45 anos. O vendedor relata que durante as enchentes teve uma grande perda na loja, como balcão, suportes, bancadas para erva-mate e balança. O que não foi perdido devido à entrada da água acabou mofando por causa da umidade. “Foi horrível para todo mundo, para a cidade. Para nós aqui no Mercado também, porque a gente perdeu tudo, não tivemos muito tempo para tirar o material aqui de dentro, e ninguém esperava que a água ia subir tanto”, ressalta sobre o período das cheias.

Gilmar também estava presente quando o Mercado Público incendiou na parte de cima. No dia do seu aniversário, assistindo ao jogo do Grêmio, a comemoração foi interrompida por uma ligação de seu sócio que avisou que o Mercado estava pegando fogo. “A nossa banca não foi atingida, mas nós tivemos que ficar cerca de 40 dias fechados por conta de a parte elétrica ficar na parte de cima, onde acabou queimando”, relata Gilmar. Em 6 de julho de 2013, o estabelecimento foi tomado pelas chamas de um incêndio que destruíram 60% do pavimento superior, oito lojas e o memorial.

Mesmo com todos esses acontecimentos, Gilmar define o seu sentimento de permanecer trabalhando no Mercado Público como gratidão. “O pessoal do Mercado é um pessoal de fibra e os trabalhadores não deixaram se abalar por nada. Já passamos por um incêndio, por uma pandemia e por uma enchente. Nós estamos firmes aqui ainda.”

“O trem não estar vindo diariamente aqui afeta bastante no nosso movimento”

Segundo Gilmar, as vendas estão fracas desde a época que terminou a pandemia da Covid-19. Com as enchentes, piorou um pouco mais porque muitas pessoas perderam o poder aquisitivo e estão tentando recuperar as suas residências. “Outra coisa que nos afeta bastante é o trem não estar vindo até o Mercado. Antes ele trazia bastante gente.”

O vendedor do Armazém 38, mais conhecido como Adega do Holandês, Tiago Pereira de Oliveira, 28 anos, trabalha há sete anos no Mercado Público. O estabelecimento vende queijos, embutidos, lácteos, vinhos nacionais e importados. Para ele, as vendas estão sendo retomadas gradualmente. “Está sendo aos poucos. A gente viu que tem uma retomada do fluxo, de pessoas querendo voltar para o Mercado Público. No entanto, ainda é um pouco menor do que o esperado.” Um dos fatores que influenciam isso é a questão do Trensurb. “O trem não estar vindo diariamente aqui afeta bastante no nosso movimento”, complementa.

Tiago trabalha há sete anos no mercado e ressalta que a ausência do Trensurb nas proximidades é um dos causadores que influencia no movimento no local. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Tiago trabalha há sete anos no mercado e ressalta que a ausência do Trensurb nas proximidades influencia no movimento – BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

A estação do trem que para no Mercado Público foi atingida pelas cheias de maio e permanece fechada até o momento. Conforme a Trensurb, a previsão de retorno é para 2025.

Apesar disso, Tiago define a possibilidade de poder trabalhar no Mercado nesse período pós-enchente em duas palavras: resiliência e coragem. “Os mercadeiros em si, a gente é bem unido no geral e, com essa questão da enchente, nos unimos mais ainda. A coragem vem de tu levantar literalmente da lama ali e retomar, né? E retomar tudo aquilo que foi danificado. Então, acho que isso ficou de aprendizado para a gente. Em meio a esse tumulto todo, fomos bem fortes.”

“Não tenho nem adjetivos para dizer o sentimento”

Fábio Akira Yoshida, 43 anos, mora em Nova Petrópolis (RS) e é frequentador do Mercado Público há 16 anos. Ele acredita que o diferencial dos produtos vendidos no local é a variedade de mantimentos frescos. Fábio costuma comprar no estabelecimento temperos, frios, condimentos e erva-mate. Sobre a volta do Mercado depois das cheias, ele relata: “Felicidade. Tristeza quando aconteceu, mas é bom ver as coisas voltando a funcionar”.

Fábio mora em Nova Petrópolis e destaca que a variedade de produtos é um dos atrativos do mercado. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Fábio mora em Nova Petrópolis e destaca que a variedade de produtos é um dos atrativos do Mercado – BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

Gabriele Scienza, 27 anos, moradora da zona sul de Porto Alegre, frequenta o Mercado Público desde quando era criança, na companhia dos pais. Assim como Fábio, a jovem vê como diferencial do estabelecimento a diversidade de ingredientes, de temperos, de carnes, entre outros produtos. “Achei que não ia ter mais o Mercado Público depois das enchentes. É um sentimento de nostalgia. De alívio.” Essa é a primeira vez que Gabriele visita o Mercado depois de ele ser tomado pela água. Ao ser questionada sobre o que está sentindo nesse momento, descreve em poucas palavras: “Não tenho nem adjetivos para dizer o sentimento”.

Gabriele se sente aliviada com a retomada das tradicionais bancas do local, pois pensou que não haveria reabertura. BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO
Gabriele se sente aliviada com a retomada das tradicionais bancas do local, pois pensou que não haveria reabertura – BÁRBARA NEVES/BETA REDAÇÃO

Babi Bühler

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