A carreira é definida como o percurso profissional de uma pessoa. Esse cenário inclui todas as experiências, aprendizados, cargos e funções ocupadas, além do desenvolvimento acadêmico. É um plano de longo prazo para o crescimento dentro do mercado de trabalho. Esse processo envolve o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos, além do alcance de metas ou objetivos.
De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação no Brasil em 2023 foi de 7,8%. No trimestre encerrado em agosto de 2024, esse percentual foi de 6,6% – redução de 0,5 ponto em relação aos últimos três meses. Levantamento realizado pelo LinkedIn, a maior rede social profissional do Brasil, mostrou que seis em cada 10 trabalhadores cogitam mudar de emprego no país.
A importância de mudar
Transição de carreira é quando uma pessoa que já atua em determinada área decide mudar e explorar uma nova profissão ou buscar uma recolocação no mercado de trabalho. Essa é uma opção a ser considerada por quem não está mais satisfeito com o trabalho que realiza e deseja explorar diferentes possibilidades.
Não existem critérios oficiais para definir exatamente o que caracteriza essa mudança. Assim, ela pode ocorrer de forma mais suave, por meio de especializações dentro do mesmo campo de conhecimento, ou de forma mais radical, com uma mudança de carreira para uma área completamente diferente da inicial.
A consultora de carreiras Maria Belo trabalha na área de mudança de profissões. Ela destaca que há diversos motivos para as pessoas mudarem de ares. “As razões são diversas. Podem ser fatores internos, como a busca de satisfação profissional ou também externos, como mudança de cidade, crise como a da pandemia, por exemplo”, explica a especialista.
Ela também destaca que investir em autoconhecimento pode ser um diferencial na hora de mudar de ares, pois é uma decisão que exige cautela, já que afeta a vida diária e financeira do profissional. “Ao identificar seus pontos fortes, interesses e paixões, é possível encontrar um novo propósito e se sentir mais realizado em sua carreira”, esclarece Maria Belo.
A consultora de carreiras explica que as maiores dificuldades para mudar de profissão são a falta de experiência na área de interesse que deseja fazer a transição e a pressa para adquirir conhecimentos específicos sem ter que retornar para uma graduação. Para Maria Belo, atalhos como esses podem não ser o ideal, dependendo do que se deseja trabalhar.
Mudanças pessoais
“Nunca é tarde para recomeçar.” Esse é o lema de Maria Teresa Piúma, 51 anos – nascida em Jaguarão, cidade que fica na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, na região sul do Estado. Filha de pecuarista, ela sempre conviveu com o agronegócio. Vivendo num município cuja economia é baseada na pecuária e na agricultura, com predominância da cultura de arroz, era um caminho óbvio que sua escolha para o vestibular, em 1991, fosse engenharia agrônoma. Ela acabou entrando no curso e se formou pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Após se formar, em 1997, Maria Teresa Piúma, também conhecida como Tetê, regressou a sua cidade natal. Como profissional formada, seu primeiro emprego foi dar aulas na Escola Estadual Carlos Alberto Ribas para alunos do Curso Técnico de Agronomia da cidade. Ela ensinava física, química e ciências da natureza.
Durante esse período, conciliou ainda o trabalho na Granja Bretanha, a maior da cidade. Tetê auxiliava no plantio e adubo do solo. “Enquanto atuava na Agronomia, nunca me senti preparada e nem capaz de trabalhar numa empresa grande, de assumir projetos mais complexos.”
Em 2001, quando se muda para Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre, Maria Teresa passa a trabalhar na Secretária da Agricultura. Lá, ela fiscalizava e certificava sementes para o plantio. Por estar no fim da gestão do Olívio Dutra (PT), o seu período no Estado foi por pouco tempo, pois era contratada com cargo comissionado.
“Quando chegou o fim do ano, todos os CCs foram demitidos e eu comecei a pensar em formar uma família.” Ela engravidou em 2002 e só voltou ao mercado de trabalho por volta de 2006. “Quando eu voltei, vi que as oportunidades na minha área eram mais escassas, já que estava numa cidade urbana, menos rural. Não tinha muito lugar para atuar”, recorda Tetê.
Por não ter opção, Tetê começou a fazer diversos concursos públicos. Foi aprovada na prefeitura de Cachoeirinha. Sua função era trabalhar no Centro de Referência de Assistência Social, o CRAS, lidando com pessoas em situações de vulnerabilidade social. “Neste momento, me ativou um gatilho para estudar e me aprofundar nessa área e trabalhar com crianças e pessoas que precisam de ajuda.”
No ano de 2017, ela começa o curso de Psicologia na Ulbra, em Canoas, no qual se formou em março deste ano. “Atualmente, eu não consigo me sustentar só com a Psicologia. Não consigo me dedicar exclusivamente na área, mas é meio objetivo até o fim de 2025.”

No momento, ela atende quatro pacientes no seu consultório, em Gravataí. Ela também conta que seus planos é ampliar os atendimentos e se tornar perita judiciária. “Estou me especializando, faço duas pós-graduações hoje e me sinto extremamente preparada para realizar essas atividades”, revela Maria Teresa.
Mercado de trabalho
O mercado profissional é definido por trocas entre pessoas que buscam emprego e as empresas que oferecem vínculo empregatício. Ou seja, quem quer ter uma atividade oferece a sua força de trabalho e quem precisa de mão-de-obra oferece uma remuneração em troca desta especialidade.
Para Maria Belo, o mercado de trabalho busca profissionais com habilidades como inteligência emocional, adaptabilidade, trabalho em equipe, proatividade e com facilidade de comunicação. “Buscar se desenvolver através de conhecimentos que são necessários para a área”, esclarece.

Para Laura Scussel, 36 anos, a escolha da profissão durante o vestibular é um fator que pode gerar escolhas equivocadas. “Eu acho que a gente escolhe muito cedo a profissão que a gente vai seguir. Com 17, 18 anos, somos muito novos para definir a profissão para o resto da vida.”
Atualmente, a moradora do bairro Sarandi, em Porto Alegre, está concluindo sua segunda graduação, em Veterinária. Ela relembra que em 2008, quando escolheu o curso de Moda, na Uniritter, o mercado de trabalho no Rio Grande do Sul para a design de moda estava consolidado. Havia diversas fábricas de roupas e calçados na região, principalmente em Novo Hamburgo. As empresas chinesas não haviam ainda tomado conta do mercado. “Após eu me formar em 2013, o mercado caiu bastante, as grandes atacadistas começaram a importar da China e o mercado ficou bem ruim. Fiquei cinco anos, mas nunca consegui um emprego bom que me deixasse satisfeita.”
Por não se sentir realizada, Laura partiu para o empreendedorismo. Durante um ano, ela fundou sua empresa e começou a trabalhar com design de produtos para pets. Nesse momento, renasceu a vontade de trabalhar na área da veterinária. “Era uma empresa que fazia coleiras, guias e camas. Nesse período, comecei a entrar em contato com as clínicas veterinárias e percebi que eu me sentia confortável e feliz naquele espaço”.
Em 2019, ela realiza um curso de três meses de auxiliar de veterinária. Seu objetivo no período era estudar e analisar seu interesse pela área. “Eu fiz o curso e estágio e me apaixonei. Era o que eu queria. Então, no mesmo instante já me inscrevi em Medicina Veterinária.” Ela conta que sempre foi apaixonada por animais, mas tinha muito receio de trabalhar na área, pois não queria ver os animais sofrendo.
No fim deste ano, Laura se formará em Veterinária. Oficialmente, ela não trabalha na área, porém há mais de cinco anos realiza estágios e convive com os animais. Seu objetivo para o futuro é trabalhar salvando vidas e dando conforto para os pets que mais precisam “O que me move é os animais e a medicina. Salvar, tirar dor dos animais e interagir com eles”, revela, emocionada.
Ela relata que o mercado de trabalho para sua área atual melhorou bastante, pois cada vez mais pessoas têm animais e tratam eles como um membro da família.
Empreender também é motivo

O IBGE afirma que em 2022 havia 14,6 milhões de microempreendedores individuais (MEIs) no Brasil. Esse número corresponde a 18,8% do total de ocupados formais. É um crescimento de 1,5 milhão de MEIs em relação a 2021. Entre as atividades econômicas, cerca de metade dos MEIs (51,5%) estava presente no setor de Serviço. A atividade de cabeleireiros e outras na área de tratamento de beleza foram as mais citadas, respondendo por 9%, e maior participação dos microempreendedores individuais nas ocupações da atividade, com 88,7%. O estudo também apresenta que a 46,4% dos empreendedores são mulheres.
É o caso de Inaira veiga, 25 anos, moradora de Canoas. Em 2014, durante o último ano de ensino médio, ela resolveu cursar juntamente Magistério, por influência da mãe e da irmã mais velha, que já eram da área da Pedagogia. “Eu gostava muito de crianças e não pensava muito nas outras opções, então resolvi seguir na área.”
Durante nove anos, ela trabalhou com crianças de zero a cinco anos, nas escolas municipais de ensino infantil, chamadas em Canoas de EMEIs. Nesse período, ela foi desgostando da área, pois entendia que outros profissionais menos qualificados atrapalhavam o processo de aprendizagem das crianças. “Eu via profissionais da área tratando mal as crianças, eles não tinham paciência, e isso me afetava psicologicamente.”
Em 2022, ela resolveu empreender. Largou a Pedagogia e virou estilista de sobrancelhas, cílios e trancista. Ela alega que o principal motivo para sua saída da área da pedagogia foi a flexibilidade de horários “O fato de eu conseguir fazer meus horários de atendimentos é essencial, pois consigo ficar mais tempo com a minha filha de quatro anos.”
Inara reforça que essa opinião também é a da maioria dos trabalhadores que mudam de área. “As pessoas buscam por equilíbrio entre vida pessoal e profissional, trabalho remoto ou híbrido, liberdade, estabilidade e autonomia para fazer as suas atividades.” Ela também relata que empreender foi um sucesso e comenta que inovação é chave para prosperar nos negócios. “Meu mercado está muito bom e quanto mais tu diversifica e te afasta dos concorrentes mais clientes aparecem”, pontua.
Muitos são os fatores para mudança, mas a paixão por novas experiências é fundamental para conseguir realizar esse processo de forma positiva.