Longe do Centro de Porto Alegre e de quase todas as exposições da 14ª edição da Bienal do Mercosul, o Museu da Cultura Hip Hop recebeu obras do evento pela primeira vez. Localizado na Rua Parque dos Nativos, 545, na Vila Ipiranga, zona Norte da Capital, o museu foi criado a partir de um projeto para revitalizar uma escola abandonada. O pavilhão central, a quadra ao lado e o pátio amplo dão essa impressão antes mesmo que os guias expliquem a história do espaço.
As obras expostas no museu conversam diretamente com a cultura hip hop. Dentro do pavilhão, no segundo andar, ficam as fotografias de Afonso Pimenta, selecionadas para o coletivo Retratistas do Morro, criado pelo pesquisador e artista Guilherme Cunha. O projeto tem como objetivo preservar o acervo de fotógrafos mineiros que retratam a realidade das comunidades locais.

A exposição em questão nos leva à década de 1980, quando Pimenta registrou bailes black em Aglomerado da Serra, maior favela de Belo Horizonte. Em meio à ditadura civil-militar no Brasil, eventos como estes eram fortemente reprimidos pelas forças policiais. As fotografias expõem um contraste entre a felicidade dos membros da comunidade, que aparecem em concursos de danças e se divertindo com muito estilo, ao mesmo tempo em que transmitem uma preocupação travessa nas expressões de quem sabe que a qualquer momento pode ser expulso e até preso por guardas. Um dos retratos mostra, inclusive, a aparelhagem de som toda dentro de uma Kombi com as portas abertas, pronta para uma eventual fuga.

A outra exposição é uma pintura do artista colombiano William Gutiérrez Peñaloza, denominada El Negro Rumbero. A obra causa imediatamente um deslumbre pela quantidade de cores vivas, várias delas neón, que precisam de equilíbrio para não se tornarem vertiginosas. Só depois do primeiro impacto é que se percebe que a pintura está posta diretamente sobre um picó, aparelho de som enorme com pequenos furos para a saída da música. Representando a festa e a cultura caribenhas, o desenho reúne vários componentes como DJ, dançarinos de diversos estilos e elementos da fauna e da flora local.

Impacto para o museu
Guia no Museu do Hip Hop, Paulina Rosa apresenta as atrações do espaço para os visitantes e afirma que a colaboração com a Bienal é extremamente benéfica. “Essa parceria é maravilhosa. Nossa entrada no circuito foi muito importante para trazer visibilidade, já que ficamos longe do Centro. Muitas pessoas vêm motivadas pela Bienal e ficam extasiadas pela estrutura, pelo acolhimento e pela história da cultura hip hop no Rio Grande do Sul. Nós criamos pontes com vários projetos culturais, e a Bienal é uma oportunidade de fomentar a diversidade na cena da cultura no Estado”, afirma.
O casal Rodrigo Lentz e Beatriz Vilela exemplifica a admiração retratada por Paulina. “Eu sou vizinho do museu, sou aqui do bairro, então conheci quando era o colégio. Ver uma escola que foi abandonada se tornar isso aqui é sensacional e é revolucionário. Isso podia ser a escola propriamente dita. Um espaço que trabalha conhecimento, cultura, que tem auto-organização, é divertido, lúdico”, reflete Rodrigo. “Eu ainda estou processando, mas achei fantástico. Eu fico pensando muito no poder que a cultura tem de revitalizar espaços. Traz outros significados para o ambiente”, conclui Beatriz.

Como visitar?
A Bienal do Mercosul segue até o dia 1º de junho e o Museu do Hip Hop está aberto para visitações de terça a sábado, das 9h às 12h e das 14h às 17h.