Coordenadora de Artes Cênicas e Visuais do Sesc/RS, Jane Schoninger, descreve a importância da retomada do setor cultural para os artistas e todo o mercado envolvido por trás dos espetáculos
O Sesc Alberto Bins está de volta. Após permanecer fechado ao público por cerca de um mês, o teatro foi reaberto no dia 08 de junho e já com agenda fechada até o final de julho. Com o intuito de prestar auxílio aos artistas que foram atingidos pelas enchentes de maio, o Recomeça Teatro Sesc Alberto Bins promove apresentações de diferentes gêneros. Com entrada franca, mas recebendo doações de alimentos e produtos de limpeza.
A Beta Redação visitou o teatro no dia 22 de junho para assistir ao “Trivial, um espetáculo de b-boys”, do Coletivo N Amostra Urbana, grupo formado por sete integrantes e que atuou com elenco reduzido no evento. Os cinco B-boys presentes não foram atingidos diretamente pelos alagamentos, porém tiveram sua agenda de shows completamente cancelada desde maio. Outros projetos artísticos que fazem parte do programa tiveram seus atuadores afetados de diferentes maneiras, com suas casas ou locais de ensaio alagados.
A apresentação original do Espetáculo Trivial possui cerca de uma hora de dança e interpretação dos b-boys do coletivo; a versão pocket que foi mostrada, entretanto, tem 35 minutos. Os passos de dança, que trazem o estilo breaking, ligado ao hip hop, impressionaram a pequena plateia presente.
Segundo a coordenadora de Artes Cênicas e Visuais do Sesc/RS, Jane Schoninger: “a importância do retorno da área cultural vai além da classe artística. Para realizar um espetáculo, precisamos de pessoas que trabalham na limpeza, de fornecedores, da equipe técnica, insumos, alimentos, muitas frentes que são mobilizadas a partir do movimento de um artista”, afirma.
Daniel Cavalheiro, de 27 anos, é bailarino e b-boy e está no grupo há aproximadamente dois anos. Envolvido no setor cultural há 2 décadas, relata o impacto das enchentes em teatros e em outros espaços: “afetou vários trabalhos e projetos que estavam programados; tivemos que adiar”, ele pergunta: “por que aconteceu? Existem órgãos responsáveis por essa questão. Como artistas, temos a condição de falar e questionar”, enfatiza.
Leonel Vieira, o b-boy Deaf, de 30 anos, também é Dj e mestre de cerimônias, e está inserido na produção cultural desde os seis anos de idade, praticando o breaking desde 2007. Além de citar os cancelamentos de eventos, relata que amigos de profissão foram atingidos diretamente pela enchente: “nos desdobramos para ajudar”, conta. Questionado se o local de ensaio do grupo foi atingido pela água, Leonel e seus colegas respondem juntos: “Quase!; bateu na porta”, relembra.
Julio Cesar, conhecido como b-boy Julinho, expressa seu sentimento ao falar sobre a enchente: “ninguém vive sem arte, mas a arte é a primeira a ser deixada de lado”, alegando que os artistas são muito prejudicados em situações como essa. Ele ainda cita que 90% da renda mensal do grupo viria dos eventos cancelados, mas está feliz em recomeçar. O grupo, que é dirigido e coreografado por Driko Oliveira, também arrecadou doações junto ao Centro Social Padre Pedro Leonardi, que segue arrecadando e distribuindo doações.
Além do Recomeça, programa em que o Teatro do Sesc Alberto Bins contratou os artistas, foi elaborado também o “Ocupa!”, uma seleção de 12 projetos para apresentações entre os meses de agosto e dezembro deste ano. O objetivo é fortalecer o retorno da cultura e do público após o hiato causado pelas consequências da enchente, dando visibilidade para esses artistas.
O Sesc Alberto Bins não teve sua sede invadida pela água, apesar de ter ficado praticamente ilhado, com a rua parcialmente alagada e o centro de Porto Alegre evacuado. Jane, que trabalha na instituição há 25 anos, explica o objetivo da iniciativa: “não tivemos prejuízos com equipamentos, mas nosso espaço esteve bloqueado por muito tempo; outros teatros do estado e do município foram afetados, não estão abertos e vai demorar para retomarem suas atividades, somos um dos poucos espaços na cidade para ser ocupado por coletivos artísticos”, finaliza.