Tradição de pai para filho

Há 25 anos no mercado, empresa familiar registra aumento na venda de veículos após as enchentes

As enchentes devastadoras que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 marcaram profundamente a vida de milhares de pessoas, além de causar danos significativos à infraestrutura do estado. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), cerca de 876 mil pessoas foram impactadas pelas cheias, que também causaram enormes prejuízos materiais, incluindo a perda de cerca de 200 mil veículos, conforme dados da consultoria Bright Consulting. O prejuízo é calculado em R$ 8 bilhões.

Esse cenário de destruição, no entanto, também trouxe uma onda de recomeços, com empresas e pessoas buscando se reerguer. Entre elas, a Nenekar, revendedora de veículos usados em Porto Alegre que foi afetada indiretamente pela enchente com o pouco movimento durante o mês.

Localizada na Avenida Assis Brasil, a Nenekar tem mais de duas décadas de história. Fundada por Alexandre Rangel, conhecido como Nene, começou como um pequeno empreendimento familiar, com apenas cinco veículos em estoque. Hoje, sob a direção de seu filho, Pedro Rangel, a empresa conta com mais de 30 veículos.

“A ideia surge com meu avô e um irmão dele. Meu pai felizmente conseguiu colocá-la em prática e em 1999 fundou a empresa”, conta o jovem empresário.

Pedro cresceu dentro do negócio familiar e assumiu a direção recentemente, após o afastamento do pai por questões de saúde. Ele conta que, mesmo enfrentando crises como a pandemia de 2020 e, recentemente, as enchentes de 2024, a empresa manteve seu compromisso de confiança com os clientes. “Meu pai sempre disse que nosso papel não é só vender carros, mas transformar a vida das pessoas”, afirma Pedro. Esse lema se mostrou ainda mais relevante após a catástrofe climática.

Revenda de veículos usados Nenekar, na Avenida Assis Brasil – LORENZO MASCIA/BETA REDAÇÃO

Vendas durante e após as enchentes

De acordo com a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), entre os dias 7 e 26 de maio de 2024, período mais crítico das chuvas, praticamente nenhuma venda foi registrada no estado. No entanto, a partir de junho, com a necessidade urgente de reposição de veículos, o setor vivenciou um crescimento expressivo.

As vendas de veículos usados no Rio Grande do Sul aumentaram 206% em comparação ao mês anterior, segundo dados do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/Fenabrave-RS). O número de emplacamentos subiu de 2.973 em maio para 9.114 no mês seguinte. A Nenekar acompanhou essa retomada, registrando um aumento significativo nas vendas.

“Em maio, vendemos apenas 3 carros. Mas em junho, com a retomada do mercado, conseguimos vender cerca de 20. No ano anterior havíamos vendido em junho cerca de 10 carros, ou seja, após as enchentes tivemos um aumento expressivo nas vendas”, conta Pedro.

O aumento de vendas da empresa em 2024, de um mês para o outro, foi de 566% e, se compararmos com o ano anterior, 100%. Isto se dá pelo fato de que cerca de 200 mil veículos foram atingidos na enchente, ou seja, a população teve que buscar alternativas.

“Muitos clientes estão comprando conosco por terem perdido seus veículos na enchente. Ver a felicidade deles ao sair daqui com um novo carro é gratificante”, relata Pedro.

Perfil dos compradores

As enchentes de 2024 trouxeram um desequilíbrio no mercado de veículos usados. Pedro explica que os carros que não foram atingidos pela água valorizaram, tornando a tabela FIPE menos relevante. “Hoje, o preço de compra e venda depende exclusivamente do estado do veículo”, afirma.

Pedro ainda observa que as enchentes provocaram uma mudança no perfil dos compradores da NENEKAR. Antes, a maioria dos clientes buscava um segundo carro ou opções mais econômicas. Agora, muitos adquirentes perderam seus veículos para as águas e estão em busca de um carro para o dia a dia, seja para trabalho ou locomoção.

Além disso, os consumidores estão mais cautelosos e exigentes, optando por carros mais antigos, na faixa de R$ 20 mil a R$ 30 mil, que ofereçam bom custo-benefício e durabilidade. “Percebemos que os clientes têm pesquisado mais, trazem amigos ou mecânicos de confiança para avaliar os veículos antes de fechar negócio”, explica.

O futuro da empresa

Com o crescimento das vendas e o fortalecimento da marca em meio à crise no estado, Pedro Rangel enxerga um futuro promissor para sua empresa. “Recentemente mudamos para um local mais amplo. Além disso, estamos expandindo nossos canais de venda online e investindo em marketing digital para atender ainda melhor nossos clientes”, afirma Pedro.

A Nenekar também inovou em suas formas de pagamento, passando a oferecer opções de financiamento que antes não faziam parte do escopo da empresa. Essa mudança permitiu que mais pessoas pudessem adquirir veículos, especialmente em um momento de recuperação financeira. “Mesmo com tempos desafiadores, estamos prontos para continuar crescendo e superando os novos desafios que surgirem”, finaliza o proprietário.

Pátio da empresa Nenekar, em Porto Alegre – LORENZO MASCIA/BETA REDAÇÃO

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